Em alta, miopia já afeta 1 a cada 3 crianças e adolescentes, alerta estudo global
26/setembro/2024
Os motivos mais comuns para o surgimento da condição são a falta de atividades ao ar livre e o excesso de telas
A miopia, que é a dificuldade de enxergar objetos posicionados em um ponto distante do observador, atualmente afeta uma em cada três crianças e adolescentes no mundo inteiro. Até 2050, a condição vai ultrapassar 740 milhões de novos casos na faixa etária entre 5 a 19 anos, de acordo com um novo estudo global publicado nesta terça-feira (24) na revista científica British Journal of Ophthalmology.
Segundo os pesquisadores, embora os países de baixa e média renda tivessem reunissem os maiores números de míopes, no período analisado (entre 1990 e 2023), o Japão tinha a maior incidência e o Paraguai, a menor. Embora a prevalência entre adolescentes tenha superado a de crianças, atingindo um pico de 54% entre 2020 e 2023, o aumento absoluto entre crianças de 1990 a 2023 foi quase o dobro do de adolescentes.
Os fatores-chave para a maior prevalência da condição são: viver no Leste Asiático (35%) ou em áreas urbanas (29%), o sexo feminino (34%), a adolescência (47%) e o ensino secundário (46%). Além disso, as estimativas apontam que o cenário continuará o mesmo para os futuros casos.
O estudo sugere que pessoas no Leste e Sul da Ásia experimentaram um rápido desenvolvimento econômico, juntamente com o aumento mais acentuado na prevalência da miopia.
“Foi observada uma correlação entre a duração da educação e a ocorrência de miopia, sugerindo que a implementação precoce da educação formal em certas nações do Leste Asiático poderia potencialmente servir como um elemento contribuinte”, escreveram os autores.
“Por outro lado, as populações africanas apresentam uma menor prevalência de miopia, provavelmente atribuída às menores taxas de alfabetização e ao início tardio da educação formal, ocorrendo normalmente entre 6 e 8 anos para a maioria das crianças”, acrescentam.
Já a diferença entre gêneros poderia ser explicada pelas mudanças na puberdade que fazem as meninas ficarem mais em casa, como apontam os cientistas, o que as influenciaria a se dedicar a atividades como leitura e mexer no celular por mais tempo.
Para realizar a meta-análise, foram analisados 276 estudos (pesquisas relevantes e relatórios governamentais), os quais envolviam mais de 5 milhões de crianças e adolescentes e cerca de 2 milhões de casos de miopia, de 50 países na Ásia, Europa, África, Oceania, América do Norte e América Latina.
“Apesar dessas limitações conhecidas, dado o grande tamanho da amostra incluída, nossas estimativas da prevalência de miopia são consideradas próximas do número preciso. É crucial reconhecer que a miopia pode se tornar um problema de saúde global no futuro”, concluem.
Uso excessivo de telas
Uma pesquisa publicada na revista científica Jama Network mostrou que o uso excessivo de telas e a falta de atividades ao ar livre são responsáveis pelo aumento dos casos de miopia entre crianças após a pandemia da Covid-19.
O trabalho comparou a incidência do problema antes e depois da crise sanitária mundial. Pesquisadores de Hong Kong analisaram dados de mais de 20 mil crianças, com idades entre 6 e 8 anos. O trabalho foi divido em três períodos: de 2015 a 2019, ou seja, antes da pandemia da Covid-19; em 2020, durante o período de isolamento social; e após o fim das restrições, em 2021.
No mesmo sentido, a Academia Americana de Oftalmologia (AAO) estimou que em 2050 metade da população mundial terá miopia. Para evitar que isso afete as crianças, a Sociedade Brasileira Oftalmologia Pediátrica (SBOP) em conjunto com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orientam os pais encorajar os filhos a olhar mais para o horizonte a partir de atividades lúdicas em casa ou na rua, para evitar a contração exagerada do músculo do foco. Já que isso está ligado ao surgimento da miopa.
Além disso, é aconselhado que as telas sejam completamente evitadas até os dois anos de idade. Aos 5 anos, o tempo de uso máximo é de uma hora por dia, com a supervisão de pais e responsáveis. Já para as crianças 6 e 10 anos, o tempo limite deve ser de duas horas por dia e os adolescentes, até três horas.
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